De uma maneira simples, a alfabetização é o aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação. De um modo mais abrangente, ela pode ser definida como um processo no qual o indivíduo não só aprende como aprende a aprender, aprende a pensar. Para falar um pouco sobre o assunto, oferecemos a palavra a Walkyria Rodamilans, diretora pedagógica da Lua Nova.
Walkyria fala um pouco sobre este momento que costuma ser uma espécie de passagem para pais e/ou responsáveis e, principalmente, para as crianças - agora vou aprender a ler e escrever. Será? A alfabetização reserva mesmo algum mistério? Qual o papel dos pais e da escola? E como se dá a passagem deste momento? É ele realmente um momento?
Acontece na Lua Nova - A alfabetização se dá em um momento pontual ou devemos considerá-la um processo?
Walkyria - As crianças aprendem a ler através de práticas sociais da leitura e escrita em situações reais como, por exemplo, os textos que são lidos no dia a dia e não produzidos para fins escolares. A aprendizagem da língua se dá por elaboração das crianças, que criam teorias próprias sobre a leitura e a escrita. Elas constroem uma série de conhecimentos sobre a língua antes de dominar o desafio da decifração e a integração com textos diversos que circulam no social.
Isto pouco tem a ver com as formas escolares de ensinar a ler e escrever. Quando elas não são tolhidas, desde muito cedo escrevem qualquer coisa que pensam, utilizando-se do uso de informações que possuem sobre o código da escrita e a compreensão que têm sobre esta linguagem. Então, a alfabetização definitivamente é um processo. Escrever de forma não convencional não impede a criança de circular livremente e atuar diante desses conhecimentos.
Acontece na Lua Nova - O processo de alfabetização sofreu algum impacto com a inserção massiva das novas tecnologias?
Walkyria - Os recursos tecnológicos ajudam porque ofertam às crianças acesso a uma diversidade de textos - o que é fundamental neste processo, e permitem que elas experimentem a escrita das letras pelo teclar e escrever palavras, e ainda tenham acesso às correções ortográficas automáticas dos corretores digitais - o que lhes dá uma grande autonomia.
Mas é preciso estar alerta porque isto não pode ser considerado como solução para as dificuldades de aprendizagem. Nestes casos são necessários desafios sobre a reflexão da leitura e escrita.
Fazendo um paralelo, em sala de aula, por exemplo, temos a lousa eletrônica que dá amplitude a este processo, mas não basta! É preciso a figura do professor para oferecer reflexões e propor desafios referentes a estes conhecimentos.
Acontece na Lua Nova - Existe uma idade ideal para a alfabetização escolar?
Walkyria - As crianças precisam aprender a se comunicar através dos diferentes meios grafados existentes no mundo. E quando pensamos na escrita, este processo de interação e comunicação não tem idade nem para começar nem terminar. É um processo muito mais amplo do que a aprendizagem instrumental das letras e a aprendizagem mecânica da leitura, e se diferencia para cada criança, pois implica em história de vida, amadurecimento e rede de conhecimentos diferentes.
Acontece na Lua Nova - Como é a aprendizagem da língua escrita?
Walkyria - Deve ocorrer num ambiente que possibilite o acesso a recursos que permitam a compreensão das leis que regem o funcionamento do sistema de escrita e leitura. É fundamental que a criança possa estabelecer correspondências entre um encadeamento oral e escrito e que desenvolva a autonomia na construção de estratégias diversas de leitura. Além disto, precisamos considerar que este ambiente não é restrito à escola, é preciso que tenha uma variedade de experiências linguísticas dentro e fora do ambiente escolar.
Acontece na Lua Nova - De que forma as famílias podem colaborar com o processo de alfabetização das crianças?
Walkyria - O ambiente familiar deve ajudar a promover a troca de conhecimentos. As crianças devem participar de situações socais de práticas reais de leitura e escrita do dia a dia, ter acesso a materiais escritos e a um ambiente rico onde seja perceptível para que serve ler e escrever na vida. Ajuda bastante ter alguém que leia história para elas e que comente textos e informações que achar interessante, situações reais do nosso cotidiano onde estas práticas ocorrem.
Acontece na Lua Nova – O que é um ambiente alfabetizador?
É um ambiente onde a criança participa de diferentes atos sociais de leitura e escrita, para que estas aprendizagens tenha real sentido. Para isto ela precisa ter acesso a diferentes portadoras textuais que circulam no meio social, compreendendo assim a sua real função. No contexto diário é importante recorrer a textos de sua vivência: receitas culinárias já realizadas, leitura de calendários, escrita da rotina e outras listas que tenham significado no dia a dia, lembretes, letras de música etc.
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