A cada ano fica mais fácil perceber a importância de espaços onde os pais possam debater a desafiante missão de educar seus filhos, num mundo que muda numa velocidade nunca vista. A Roda de Pais da Lua Nova tem sido este espaço desde o ano 2000. Treze anos depois continua sendo uma das fontes de conhecimentos não só para os pais, mas também para o corpo docente da escola. Os temas sugeridos são os mais variados, mas alguns têm uma recorrência maior, é o caso dos “limites”.
Desde a primeira Roda de Pais 2013 este foi o tema central das conversas entre pais, responsáveis e a escola. A discussão ocorreu em torno dos riscos e tempo de permanência das crianças com as diferentes tecnologias da atualidade: até onde devem acompanhar seus filhos e até onde eles devem ter autonomia na relação com o mundo virtual? Observaram que muitas crianças desconhecem a cidade onde moram, expuseram a preocupação com o pouco tempo que têm de estar com os filhos para brincar e fazer atividades onde compartilhem afetos e valores.
Um exemplo da força desse tema foi dado no evento do ciclo “Cuidar da Infância”, organizado pelo Centro de Estudos da Lua Nova, vinculado à atividade “Roda de Pais”. Ocorrido em outubro, o encontro reuniu 80 pessoas na Livraria Cultura com a proposta de realizar uma discussão em torno do texto da psicanalista e membro fundador do Instituto Viva Infância, Claudia Mascarenhas, “A criança preocupada”. Mas a temática sobre limites veio à tona novamente. Claudia prontamente embarcou no fluxo da demanda do grupo e lançou-se no debate com os pais. Como dar limites ao consumismo infantil, foi uma das questões levantadas. Como respeitar, no convívio diário, as fronteiras entre o mundo das crianças e dos adultos? Outra.
Mas cada família é um mundo e por isso as respostas sobre limites, antes de serem padronizadas, devem ser compreendidas dentro da realidade vivida por pais e filhos. Uma boa sinalização foi feita por Marizabel Almeida, do Serviço de Orientação Educacional da Lua Nova, num dos encontros da Roda de Pais.“Do que as crianças precisam? O que é dar tudo?”, perguntou. “Por que não conseguimos deixar que as crianças tenham a experiência com a falta? Será que elas não podem se frustrar? Receber um não? Elas vão chorar, gritar, dizer que odeiam aqueles que cuidam do seu bem estar. Mas elas estão aprendendo com isto. Como elas vão enfrentar o mundo se não estiverem preparadas para receber um não?”
E essa é a importância de um espaço como a Roda de Pais - orientar debates que não se fecham, não se concluem justamente por tratar da relação entre crianças, pais e o mundo à sua volta. Ou seja, sobre variantes que estão sempre em mudança. Sobre isso, Andaiá Mello, orientadora da Educação Infantil da Lua Nova e mestranda em Educação na Ufba, deixou uma boa mensagem num dos eventos ao esclarecer que não há soluções prontas para as questões que trazem inseguranças aos pais. “A Lua nova não tem respostas, tem apostas; aposta que mesa-redonda, Roda de Pais, rodas com crianças, cursos de formação para professores, reuniões com os pais, em grupos e com cada família, são ações na direção de um diálogo que pode possibilitar entender nossas atitudes e buscar mudar, se necessário. Mudar famílias, escolas, pais, professores e crianças. Mas são diálogos sem verdades absolutas, que precisam acontecer com delicadeza, seriedade, acolhimento e questionamento”, explicou.
Comments